"Bonita demais": quem é a freira brasileira que perdeu cargo na Itália?
Ex-madre-abdessa e natural do Amapá, Aline Ghammachi foi destituída do cargo após acusações de maus-tratos e desvios de recursos; veja trajetória da freira
Aline Pereira Ghammachi, uma freira brasileira nascida no Amapá e formada em istração de empresas, ganhou destaque na Itália ao se tornar, em 2018, a mais jovem regente de um convento no país, aos 34 anos.
No entanto, sua trajetória como madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia teve um desfecho abrupto e controverso: ela foi afastada do cargo após denúncias anônimas e, segundo ela, por ser considerada "bonita demais".
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A religiosa afirma que foi alvo de perseguição dentro do convento e que seu afastamento aconteceu em um contexto de disputas internas e inveja.
"Frei Mauro Giuseppe Lepori dizia, mesmo em tom de brincadeira, que eu era bonita demais para ser freira ou abadessa. Mas isso me expôs ao ridículo", contou Aline em entrevista à imprensa italiana.
A decisão de destituí-la ocorreu no dia seguinte à morte do papa Francisco e à eleição de seu sucessor, Leão XIV.
Carta ao Papa e clima de tensão no convento

Dois anos antes de sua destituição, Aline foi alvo de uma carta enviada por freiras ao papa Francisco, acusando-a de maus-tratos. As denúncias, inicialmente, foram desconsideradas, mas acabaram ressurgindo após mudanças internas na Igreja.
A freira relata que a situação se agravou durante a Semana Santa de 2025. “Na segunda-feira de Páscoa, fui dispensada. A decisão veio de repente e até agora não vi evidências de minhas falhas”, afirmou.
Segundo Aline, quatro religiosas a acusaram de maus-tratos, o que levou à sua saída imediata do cargo. O ambiente no mosteiro ficou tão insustentável que, no dia seguinte, cinco freiras fugiram do local e buscaram abrigo em uma delegacia.
Desde sua saída, outras freiras também abandonaram o mosteiro — 11 das 22 religiosas que viviam ali deixaram o local. Atualmente, a maioria das que permanecem são idosas, com mais de 80 anos.
Busca por justiça e nova etapa
A ex-madre-abadessa, que afirma ter sentido o chamado à vida religiosa desde os 15 anos, disse que agora busca orientação espiritual e jurídica para definir os próximos os. "Rezo para que a verdade venha à tona, pelo amor de Deus e pela missão que desempenhamos", declarou.
Em comunicado oficial, o mosteiro afirmou que Aline tinha o direito de recorrer ao Dicastério contra o decreto que determinou sua saída. No entanto, segundo a Aliança Inter Monastérios, ela optou por apresentar uma queixa civil, embora ainda não tenha especificado contra quem ou com base em quais argumentos.
Trajetória da freira Aline
Filha de um casal de jornalistas do Amapá, Aline concluiu o curso de istração em 2005 e, pouco depois, mudou-se para a Itália para seguir a vida religiosa. Fluente em línguas, atuou como tradutora de documentos sigilosos e intérprete em eventos da Igreja antes de ser nomeada madre-abadessa.
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Sua ascensão rápida e carisma chamaram atenção dentro da comunidade religiosa, mas também despertaram desconfortos e tensões — especialmente por sua aparência, que chegou a ser motivo de comentários depreciativos dentro do próprio clero.