Animação produzida em Meruoca ambienta história de Natal no Sertão
Longa "Um Natal no Sertão" desenvolvido no município de Meruoca valoriza elementos da cultura nordestina em animação 2D
O filme intitulado “Um Natal no Sertão” utiliza novas tecnologias de animação para contar uma história que valoriza a riqueza natural e cultural do Ceará. Desenvolvido no município de Meruoca, a 263,8km da Capital, o longa-metragem aborda a temática natalina sob uma perspectiva nordestina.
Com estreia prevista para 2026, a produção teve início em agosto de 2024 e conta com uma equipe de 40 profissionais das cidades de Fortaleza, Meruoca e Barbalha. A produtora responsável, Narrativa Entretenimento, tem sede em Meruoca e já possui cinco obras em seu portfólio.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Embora a temática natalina seja amplamente explorada em produções hollywoodianas, são raros os filmes que colocam em foco as experiências sertanejas. O longa é dirigido por Augusto César, que explica que a motivação para abordar um tema universal como o Natal surgiu da forma única com que os nordestinos celebram datas festivas. A caatinga, nesse contexto, torna-se cenário e elemento narrativo fundamental para ambientar a vivência dos personagens.
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Um Natal no Sertão: animação em estilo cut-out
A narrativa gira do filme "Um Natal no Sertão" em torno de um tema universal: o amadurecimento. A história acompanha Cidinha, uma menina que enfrenta seus medos para realizar um desejo simples e simbólico: ar o Natal ao lado da avó.
Ao longo da trama, elementos simbólicos da cultura nordestina se entrelaçam. A culinária com a avó, o brinquedo favorito de Cidinha — um pião —, e seu inseparável companheiro de aventuras, o jumentinho Lulu, ganham destaque. Durante sua jornada, ela encontra ainda uma dupla de saguis — conhecidos no Ceará como “soins” — que se unem a ela na aventura.

O projeto aposta na animação 2D no estilo cut-out — técnica em que os personagens são criados virtualmente a partir de recortes e manipulados como fantoches digitais, diferente dos clássicos desenhos feitos à mão. “O cut-out é uma técnica clássica e, após vários estudos, optamos por essa abordagem porque enaltece a estética e a narrativa lúdica do filme. 'Um Natal no Sertão' é uma obra que aposta na fantasia e na poesia visual para dialogar com o público infantojuvenil. O recorte artesanal dos personagens e cenários trouxe uma textura única, que remete ao universo dos livros ilustrados”, ressalta o diretor.

Augusto também destaca a importância de trazer esses temas para o centro da narrativa, referenciando o bioma da caatinga e a vivência no sertão. “Afinal, é um filme produzido por cearenses, com vozes, técnicas e compreensões do mundo a partir do nosso ponto de vista”, reafirma.
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Um Natal no Sertão: um novo olhar sobre o sertão
A animação busca ainda romper com olhares estereotipados sobre o bioma, evitando a imagem da “terra arrasada”. O sertão também tem seus períodos de chuva, em que a natureza floresce e o verde predomina. E não é apenas na paisagem que há rompimento de estereótipos. Segundo o diretor, os personagens foram desenvolvidos para refletir a diversidade do sertão. O pai de Cidinha é apicultor, a mãe conserta rádios, e a trama aprofunda-se na pluralidade que existe não só no sertão, mas em todo o Brasil.
Produzir uma animação no interior do Ceará traz desafios logísticos, especialmente para reunir uma equipe totalmente local. “Reunir a equipe fica ainda mais árduo porque, felizmente, por meio das leis Paulo Gustavo e PNAB, os diversos profissionais estão envolvidos em seus respectivos projetos. Todavia, conseguimos contornar esses imes, e o projeto segue intenso, colocando Meruoca como grande protagonista da produção cinematográfica na região do Sertão de Sobral”, afirma Augusto.

"Um Natal no Sertão" nasce de um olhar atento para as produções que ocupam espaço nas plataformas de streaming e no circuito cinematográfico atual. Ao observar a falta de pluralidade, a animação busca se aprofundar nos símbolos e vivências comuns à cultura nordestina, especialmente nos momentos de celebração.
“O audiovisual tem um papel fundamental na preservação da memória e da identidade cultural nordestina, porque permite que nossas histórias, sotaques, paisagens e saberes sejam contados por nós mesmos. Quando o cinema e a animação dão voz às tradições locais, às personagens do sertão, às festas populares e ao modo de vida nordestino, eles ajudam a manter viva uma cultura que muitas vezes é invisibilizada — ou pejorativamente retratada — pelos grandes centros”, conclui o diretor.