Dez anos sem Zorra Total: ficou difícil competir com a realidade
Com a realidade cada vez mais absurda e o avanço da tecnologia, filmes, séries e programas de TV perdem audiência para o "baseado em fatos reais"
Em abril deste ano, estreou na Netflix a sétima temporada de “Black Mirror”, já consagrada entre os fãs de realidade paralela e distopias. A série inglesa ilustrava histórias da humanidade em um futuro dominado por inteligências artificiais. A produção, no entanto, foi perdendo adesão ao o que a ficção virou realidade. O mesmo aconteceu com o programa de humor "Zorra Total", que “perdeu a graça” para o noticiário.
Há poucos anos, discutíamos distopias nas universidades, pensávamos um possível futuro com a maior inserção de tecnologia no dia a dia. Faz apenas sete anos que a influência dos algoritmos foi tema da redação do Enem e pauta nacional. Atualmente, parece até bobo voltar nesse assunto.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Zorra Total: Viver o absurdo
Os filmes, séries e novelas da televisão aberta parecem ter perdido a graça, pois ficou muito difícil criar uma verossimilhança que surpreenda mais do que as notícias do jornal. A realidade parece ter se tornado tão absurda que a ficção ficou para trás.
Há exatamente uma década, era transmitido na televisão o último episódio de “Zorra Total”, programa de entretenimento que criava situações exageradas com personagens cheios de bordões. Na última temporada, uma frase marcou a produção: “Está difícil competir com a realidade”.
Zorra Total, bebês reborn e o ânus da Anitta
“Zorra Total” foi pioneiro e visionário com esse aforismo, pois até os conteúdos mais futuristas perderam a graça para o noticiário. Como poderia a famosíssima série “Black Mirror” continuar surpreendente se, nas redes sociais, vemos encontros de mães de bebês reborn?
E até mesmo um filhote de porco reborn dado à mesma que tem uma vaca chamada Anitta e um galo chamado Cauã Reymond. É difícil superar algo assim.
Nem os mais visionários do entretenimento pensariam numa realidade em que uma tatuagem no ânus de uma cantora pop resultaria em uma investigação de contratos ilícitos de cantores sertanejos. Nenhum filme policial conseguiu prever que canetas para diabetes seriam mais traficadas do que as drogas tradicionais, como maconha, pó e outras “caretices”.
Jacarés, bobbie goods e Davi Brito
Quem poderia pensar num roteiro mais inusitado do que um dos maiores países do mundo ser governado por um presidente que insinua que uma vacina pode transformar alguém em um jacaré?
Não temos ainda discos voadores, mas temos adolescentes como influenciadores digitais, fãs da Deolane, médicos tiktokers, Bobbie Goods, “Ilhados com a Sogra”, fãs de Davi Brito e uma Guiana Brasileira.
Cada vez mais, entendo quem prefere se afastar da realidade para maratonar doramas fofos no streaming. Essas tramas sim são inusitadas: histórias simples e fáceis de assimilar.
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