O que muda no campo de batalha com o acordo de mineração entre Trump e Zelensky?
O POVO conversou com um especialista que explicou que o acordo destravou ajuda militar a Ucrânia, o que pode dar mais fôlego ao pais no conflito com a Rússia
Após fecharem o acordo para a extração dos minerais de terras raras da Ucrânia, o Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, destacou que o acordo firmado entre seu país e a Ucrânia coloca pressão na liderança da Rússia.
Para entender o que está em jogo neste acordo e o que muda no campo de batalha entre russos e ucranianos, é preciso entender os objetivos e o acordo entre as partes envolvidas.
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Em entrevista ao O POVO, o professor e doutor em Direito Internacional Vladimir Feijó disse que Donald Trump colhe dividendos políticos com esse acordo. Ainda de acordo com o especialista, as falas de Trump sobre a Groenlândia também podem ser explicadas pelo interesse nos minerais de terras raras.
O acordo assinado entre Estados Unidos e a Ucrânia prevê a criação de um fundo de investimento e reconstrução para o país Europeu. Este fundo será gerido e dividido em partes iguais para ambos os países e será abastecido pelas receitas provenientes da exploração dos recursos minerais da Ucrânia. O período inicial do acordo estabelecido pelos dois países é de 10 anos, tempo que os lucros serão reinvestidos exclusivamente em projetos de mineração, petróleo, gás e infraestrutura no país europeu.
Apesar das falas de Trump em tom de cobrança em relação à ajuda dos Estados Unidos ao país europeu, dada durante o governo do seu antecessor Joe Biden, o acordo não prevê a cobrança de ajuda até então dada à Ucrânia, focando portanto nas parcerias futuras.
Para os negociadores estadunidenses, a garantia de segurança ao país da Europa estaria na própria atuação de mineradoras americanas, que, segundo ele, iria dissuadir a Rússia militarmente. Com a do tratado de exploração, as mineradoras dos Estados Unidos am a ter preferência na exploração dos recursos ucranianos.
Entretanto Feijó lembra que a dissuasão só vai acontecer se de fato a exploração dos recursos começarem, e, segundo ele, esse processo vai demorar por questões de logística e infraestrutura para as empresas americanas. “A dissuasão só acontecerá se de fato as empresas americanas começarem a exploração, mas isso pode demorar um tempo, não acredito que a potencialidade encurte o tempo do conflito”, destaca o acadêmico.
“Com a presença americana in loco, a dissuasão ainda depende do compromisso, do governo americano no longo prazo de manter tropas no leste europeu e no entorno do mar negro para ter uma resposta rápida caso haja uma tentativo de ataque russo no território ucraniano, caso contrario a Rússia não vai se sentir intimidada”, completa Feijó.
Segundo a explicação de Vladimir, para o início da atividade americana de mineração será preciso fazer novas pesquisas de novas áreas de exploração, pois de acordo com o professor parte das áreas com esses recursos estão em atrito entre tropas russas e ucranianas, ou já tem domínio russo consolidado.
Apesar disso, o especialista considera que o acordo será benéfico para a Ucrânia conseguir manter sua máquina de guerra capaz de resistir a Rússia. “O que muda agora com o acordo, é que o governo Trump que estava travando o envio de novos armamentos ou mesmo as discussões de novos empréstimos, está fim de semana (03 de abril) já liberou o primeiro envio aéreo de armas para Ucrânia”, explica.
“Dá a Ucrânia um sopro de chance de seguir combatendo com apoio americano e não ficar dependente apenas de produção própria ou dos europeus”, conclui Vladimir
O que são os minerais de terras raras?
O termo vem se tornando popular na mente das pessoas diante das mudanças tecnológicas e as disputas internacionais de grandes empresas e países pela exploração desses recursos, tendo o potencial de transformar os minerais de terras raras no “novo petróleo” no século XXI.
Essenciais para fabricação de smartphones, outros dispositivos eletrônicos e chips utilizados pelas empresas de inteligência artificial, a disputa por esses minerais pode explicar muito dos movimentos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem impacto na geopolítica global.
Vladimir Feijó destacou que “como o nome diz, eles são raros, e os Estados Unidos importam”. Portanto, ter a posse e a tecnologia para extração desses recursos é fundamental para a disputa tecnológica entre as grandes potências.
Segundo o acadêmico, esses minerais têm reservas muito pequenas quando comparados com outros minerais mais abundantes. “Eles são raros, e hoje as reservas estimadas são 94 milhões de toneladas de reserva. Não é um volume absurdo, e eles são ‘maus’ distribuídos ao redor do mundo”, disse Vladimir.
Ao todo os recursos de terras raras são um grupo de minerais e 17 elementos da tabela periódica:
15 elementos do grupo dos lantanídeos:
- Lantânio (La)
- Cério (Ce)
- Praseodímio (Pr)
- Neodímio (Nd)
- Promécio (Pm) (radioativo e raro na natureza)
- Samário (Sm)
- Európio (Eu)
- Gadolínio (Gd)
- Térbio (Tb)
- Disprósio (Dy)
- Hólmio (Ho)
- Érbio (Er)
- Túlio (Tm)
- Itérbio (Yb)
- Lutécio (Lu)
- Escândio (Sc)
- Ítrio (Y)
Para exemplo, o térbio é utilizado na fabricação de televisores de led, o lantânio para lentes de câmeras, e o itérbio para fabricação de lasers médicos.