Hospital da Criança de Fortaleza recebe insumos após alta de casos de SRAG

Hospital da Criança de Fortaleza recebe insumos após alta de casos de SRAG

Materiais foram enviados pela Secretaria da Saúde do Ceará frente ao aumento nos registros de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs), principalmente em crianças de até quatro anos; Capital registrou mais de 800 casos de entre os dias 20 de abril e 17 de maio

O Hospital da Criança de Fortaleza Dra Lúcia de Fátima, popularmente conhecido como Hospital Infantil de Fortaleza (HIF), tem recebido reforço de equipamentos e insumos devido à alta nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) indicam que a unidade recebeu 7.312 pacientes com sintomas gripais apenas entre os dias 1 de abril e 28 de maio, o equivalente a 51% dos mais de 13 mil feitos até aqui em 2025.

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Os materiais foram enviados via Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), a fim de potencializar os atendimentos na unidade municipal e desafogar a demanda no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), istrado pelo Governo do Estado. 

De acordo com a Sesa, no último dia 17 foram enviados ao Hospital Infantil de Fortaleza, seis ventiladores pulmonares, seis circuitos ventilatórios, 20 cateteres para punção venosa, 40 sondas traqueais, quatro peças em “Y” para divisão de fluxo de ar comprimido, seis aquecedores e doze sensores de fluxo.

A medida foi tomada após o aumento significativo de síndromes gripais em território cearense, em especial, no Centro-Norte. Nas últimas quatro semanas epidemiológicas (período que vai de 20 de abril a 17 de maio), Fortaleza foi a cidade com mais casos de SRAGs no Estado, com 859 registros, seguida de Sobral, com 596.

Entre os geradores dessa alta nas Síndromes está o Influenza, vírus causador da gripe. A Capital é o local onde o patógeno mais preocupa, já que das 302 confirmações de casos no Ceará em 2025, 135 foram em terras alencarinas, sendo 70 só entre o fim de abril e o começo de maio.

O salto é visto com preocupação pelas autoridades de saúde e já tem motivado ações para a prevenção. Em Fortaleza, mutirões em locais públicos e abertura dos postos de saúde aos fins de semana para vacinação têm sido adotadas para amenizar os impactos do Influenza na população.

Além dele, outros patógenos, como o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador da bronquiolite, têm lotado as unidades de saúde ao redor do Estado. Os registros do patógeno têm crescido no Ceará desde março, e no mês quatro, se tornaram os mais recorrentes em todo o Estado.

A pneumopediatra Carolina Arcanjo explica que o vírus é sazonal, e que tem o primeiro semestre do ano como período de maior circulação. Apesar do “protagonismo” visto durante os últimos meses, a profissional alerta para a atenção aos casos de infecções combinadas, principalmente em crianças pequenas, que podem interferir no tipo de tratamento a ser executado.

“É muito comum nessa época do ano a gente encontrar casos sobrepostos. Bronquiolite com pneumonia, mais de um tipo de vírus… o vírus influenza que tem tratamento específico. Realmente só no atendimento médico que vai poder ser definido qual o melhor tratamento para aquele momento”, pontua Arcanjo.

As crianças, inclusive, têm sido as mais afetadas pelos vírus causadores de SRAGs no Ceará. Dos 1.417 casos já notificados desde o dia 20 de abril, 934 foram em crianças de até 4 anos de idade. A maioria desses casos até aqui são de meninos (57%), em especial os até 6 meses de idade.

Casos leves estão sendo encaminhados para postos de saúde

O POVO esteve no Hospital da Criança de Fortaleza durante a tarde do último dia 20 e a manhã de 21 ado para acompanhar a movimentação durante a alta demanda. Em ambas as ocasiões, o que se pôde presenciar foi lotação na recepção da unidade e reclamações dos pacientes sobre a falta de atendimentos.

Devido à alta demanda, o local tem tratado apenas casos mais graves, ou seja, de crianças com dificuldade para respiração ou outros indícios de agravamento. Aqueles com sintomas mais leves, como tosse e constipações, comuns a resfriados simples, são encaminhados a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) próxima.

“Não tem atendimento. Aí só está atendendo os casos muito graves. Crianças com problemas de respiração, baixa saturação… Estão pegando as crianças com pulseira verde e mandando para um outro local. Perguntei à moça da portaria onde era e ela disse que é um posto de saúde perto da pracinha do João XXIII. Eu vou para casa. Posto de saúde tem um na esquina de casa”, relata Ionete Souza, 50, que buscava atendimento para o neto Emanuel, 4.

 

Essa foi a orientação dada também a Renata Rodrigues, 33, que foi mais uma a encontrar portas fechadas. Ela conta que apenas as crianças que recebem ficha amarela ou vermelha no acolhimento permanecem no hospital, enquanto as outras, são encaminhadas de ambulância para a UBS.

Entretanto, os moradores alegam que a medida tem prejudicado quem lida com os casos leves, já que os postos da cidade também estariam lotados.

“Estão atendendo só quem recebe fitas amarelas e casos de muita urgência. No caso de gripe, tem que procurar posto de saúde. E posto de saúde também está superlotado, não tem atendimento”, afirma a atendente, que não conseguiu nem pesar a filha devido à lotação.

Além da negativa para os casos mais leves, a população reclama também da demora para atendimento. Com casos de pessoas que aram até quatro horas para serem encaminhadas ao médico, o local acumulou filas que se estendiam até o lado de fora da recepção.

“Chegamos seis e pouco. Fui atendida às 9h30min para ar pro acolhimento e esperei para ar para a sala da médica. Mais de quatro horas para ser atendida. Tá muito lotado. Tem muitas crianças que chegam como ele vomitando muito e tem que esperar para ser atendido sem preferência nenhuma”, conta a dona de casa, que foi ao hospital após o filho, Lailson, ficar adoentado.

Em nota, a SMS pontuou que o procedimento é padrão na rede de saúde da cidade, e que os locais de atendimento são estabelecidos conforme a gravidade dos casos. A pasta também pontuou, que devido a alta de adoecimentos em crianças, tem aberto postos de saúde aos fins de semana para acolhimento pediátrico.

"A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que no período sazonal fortalece a integração entre os hospitais, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) municipais e as unidades de saúde estaduais. O objetivo é direcionar os pacientes para os serviços mais adequados às suas necessidades: os casos de baixa complexidade devem ser atendidos nos postos de saúde, enquanto as situações de média e alta complexidade serão encaminhadas para as UPAs e hospitais", disse a pasta.

Sindicato dos Médicos do Ceará denuncia abertura de UTI em más condições; Prefeitura nega existência da unidade

O Sindicato dos Médicos do Ceará (SindMed) tem sido mais um a questionar o funcionamento do Hospital da Criança durante as últimas semanas. Segundo a entidade, uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), teria começado a funcionar às pressas na última segunda-feira, devido ao número de casos graves que chegavam à unidade.

A instalação teria sido feita sem o devido preparo, com denúncias de falta de profissionais e insumos suficientes para atender a população. Conforme a denúncia, estariam faltando materiais básicos como como oxigênio e ventiladores, para atender toda a demanda que tem recebido

Com estimativa de duplicação na demanda, saltando de 200 para 400 pessoas por dia, segundo o SindMed, estaria com falta também de profissionais suficientes para dar conta da alta demanda.

Esse alto número de pacientes demanda também um maior quantitativo de profissionais a postos nas unidades. Entretanto, o Hospital não teria sido aportado com novos pediatras, gerando uma sobrecarga no atendimento

“Você está tendo uma avalanche de crianças indo para serem atendidas no HIF, que gera expectativa, ansiedade… e dentre esses, você tem os graves, que a Prefeitura decidiu que lá iria assumir, mas que não foi adequadamente preparado”, afirma Edmar.

Durante as visitas ao local, O POVO questionou profissionais e pacientes sobre a unidade de tratamento, que afirmaram não saber da existência do equipamento. Questionada sobre as denúncias feitas pela entidade sindical, a SMS também negou que haja UTI em funcionamento no Hospital.

"A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que o Hospital da Criança de Fortaleza Dra Lucia de Fátima não conta atualmente com Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A unidade funciona 24 horas por dia para atendimentos de urgência e emergência pediátrica, dispondo de enfermarias e leitos de observação", disse a pasta, em nota.

As denúncias do Sindicato também incluem a transferência de pacientes do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), referência em tratamento pediátrico na rede estadual, para a suposta UTI do Hospital da Criança. Em nota no dia 21 de maio, a Sesa informou que chegou a enviar materiais para dar e ao HIF, que auxilia o Hias no atendimento de crianças. 

A resposta, entretanto, não citou a existência de uma UTI na unidade municipal. Confira nota na íntegra:

"A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informa que, diante do aumento recente dos casos de síndromes respiratórias, foram disponibilizados equipamentos e insumos ao Hospital da Criança — unidade sob gestão municipal — para estruturar leitos críticos, com o objetivo de reforçar o atendimento de retaguarda ao Hospital Infantil Albert Sabin, que integra a rede da Sesa", disse a pasta estadual.

Nessa quarta-feira, 28, O POVO questionou à pasta se os "leitos críticos" citados na nota são leitos de UTI, e se realmente houve transferência pacientes do Hias para o HIF. Em nova nota, a pasta afirmou que as transferências ocorrem segundo protocolo de regulação de leitos e disponibilidade de vagas nas unidades de referência.

A pasta não respondeu se os leitos assistidos no HIF são de UTI. Confira nota na íntegra:

"A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informa que a transferência de paciente ocorre conforme o perfil do seu quadro clínico e da unidade de referência para atender o caso específico. O fluxo funciona de acordo com o protocolo de regulação de leitos, quando a unidade de referência manifesta vaga disponível, compatível com o perfil de assistência que atenda a condição clínica do paciente. Uma vez encontrada a vaga, o paciente é transferido para o hospital regulado, com a comunicação entre as unidades de saúde, por meio da Central de Regulação".

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