Policial suspeito de desviar 301 armas teria negociado-as com facção da Grande Messejana
Entre as acusações existentes contra o agente público, o MPCE citou uma negociação em que ele teria oferecido um carregador de pistola a uma traficante em troca de 10 gramas de cocaína
O policial penal Rocky Marciano Lopes Nogueira, de 42 anos, preso suspeito de desviar 301 armas de fogo da Secretaria da istração Penitenciária e Ressocialização (SAP), teria negociado esse armamento com integrantes de uma facção criminosa que age na região da Grande Messejana, em Fortaleza.
A informação consta em um parecer do Ministério Público Estadual (MPCE), elaborado na última sexta-feira, 23, em que o órgão ministerial se posiciona contrário a um pedido de liberdade provisório feito pela defesa do suspeito.
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Na manifestação, a procuradora Nádia Costa Maia menciona que as investigações da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) se depararam com conversas de Rocky Marciano com traficantes, sobretudo, do bairro Paupina.
Conforme apurou a Delegacia de Assuntos Internos, da CGD, os faccionados pagavam pelas armas tanto com dinheiro, quanto com drogas, “permitindo que ROCKY MARCIANO asse a ostentar um padrão de consumo (festas, viagens etc) incompatível com sua renda”.
De acordo com o parecer, Rocky Marciano é acusado de subtrair 222 pistolas e 79 armas longas durante os cerca de 10 anos que ou como armeiro e supervisor do Núcleo de Armamento da SAP (Nuarm/SAP).
Durante esse período, conforme o texto, ele adquiriu “conhecimento técnico avançado sobre as armas da SAP, incluindo os locais exatos onde eram gravados os números de série”.
O policial penal foi afastado do cargo em novembro de 2023, momento em que ele teria sofrido “um vertiginoso declínio financeiro”. Evidência disso, citou o MPCE, foram diálogos mantidos por Rocky Marciano com uma traficante, em que esta fazia “cobranças incisivas” para que ele quitasse dívidas de drogas.
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Em outra conversa com essa mesma traficante, o policial penal, conforme o MPCE, apareceu negociando um carregador de pistola PT 840 em troca de 10 gramas de cocaína.
Extração dos dados do celular de Rocky Marciano também mostrou que, em janeiro de 2024, o policial penal demonstrou, em áudio enviado ao seu irmão, estar com medo de ser preso.
“É, macho. Eu tenho que… eu vou pegar outra licença aí. Sei não. Acho que o seu irmão véi daqui uns dias ele vai… a negada vão prender ele, ele vai pra cadeia. As paradas que eu fiz lá no meu serviço lá, entendeu? Eu só peço uma coisa pra ti, que você cuida da minha família, viu meu fí">O relatório da transcrição, elaborado pela Polícia, também afirmou que o irmão dele ofereceu ajuda para que Rocky Marciano fugisse do País. A extração de dados ainda revelou uma possível ameaça à então namorada do policial penal.
“No diálogo ameaçador, ROCK MARCIANO revelou ser uma pessoa extremamente perigosa, propensa a determinar, de forma direta ou mediata, a morte de outras pessoas, chegando a afirmar que ‘um a mais ou um a menos não importa’, insinuando que, caso determine a morte (da ex-namorada), não seria a primeira a morrer por ordens suas”, consta na decisão judicial que decretou a prisão do suspeito.
O MPCE também mencionou que, mesmo após a saída do Nuarm, Rocky Marciano teria continuado a desviar armas de fogo. Após ser designado para o Grupo de Apoio Penitenciário (GAP), também da SAP, ele teria recebido, em 8 de dezembro de 2023, uma pistola Glock e, em seguida, “desaparecido”. Dias depois, ele registrou um Boletim de Ocorrência (BO) em que alegou ter tido a arma roubada.
“Em que pese às razões alinhadas em favor do paciente através da atuação defensiva, forçoso convir que a segregação provisória, inicialmente, deve prevalecer como medida imprescindível à garantia da ordem pública”, afirmou a procuradora Nádia Costa Maia ao defender a manutenção da prisão do policial.
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Rocky Marciano foi preso por força de mandado de prisão preventiva no último dia 27 de março. Ele nega as acusações de peculato e comércio ilegal de tráfico de armas.
O POVO não localizou a defesa do policial, mas, no pedido de habeas corpus, a advogada dele, Adriana Maria de Oliveira Martins, disse não haver provas dos crimes.
Como O POVO mostrou no último dia 29 de abril, a defensora citou depoimentos de outros policiais penais que indicam que o controle do armamento no Nuarm era falho e que “qualquer pessoa de outros setores que tinham o também a estas armas poderiam subtraí-las”.
Um policial penal que trabalha na área de Tecnologia de Informação (TI) da SAP chegou a afirmar, em depoimento, que o sistema no qual era feito o controle do armamento não era “funcional para emissão e controle de cautelas”.
O policial, porém, afirmou que Rocky Marciano nunca reportou falhas ou sugeriu melhorias ao programa. “Ao analisarem os documentos do Nuarm, (os policiais penais) verificaram que ROCKY MARCIANO parecia adotar apenas o termo de cautela, mas não adotava nenhum documento de baixa de cautela, pois nenhum foi encontrado”, afirmou um depoente.
“Diante disso havia vários termos de cautela para a mesma arma, como se a mesma arma tivesse sido entregue a mais de um policial”, disse o policial, que ainda afirmou que as armas que desapareceram foram todas adquiridas antes da gestão Mauro Albuquerque, iniciada em 2019.
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