Praça da Bandeira: pessoas em situação de rua recebem serviços oferecidos pela UFC
Na Capital, 9.657 famílias resistem nessa condição, de acordo com dados da Prefeitura divulgados em fevereiro de 2025
Em frente à tradicional Faculdade de Direito (Fadir) da Universidade Federal do Ceará (UFC), encontra-se também uma paisagem antiga da sociedade de Fortaleza: as pessoas em situação de vulnerabilidade social que vivem na Praça da Bandeira, localizada na rua Senador Pompeu, 1666, no Centro.
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Na Capital, 9.657 famílias resistem nessa condição, de acordo com dados da Prefeitura divulgados em fevereiro de 2025.
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Na sexta-feira, 9, o Programa Cuidado Itinerante, uma iniciativa da Fadir, em parceria com o Núcleo de Mediação e Conciliação, o Dialogar, ofereceu atendimento a este público.
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Foram ofertados serviço de busca de vagas de emprego no Sistema Nacional de Emprego (Sine), orientação médica e jurídica, assessoria contábil, serviços de enfermagem, emissão de documentos (prioritariamente certidão de nascimento), arrecadação de alimentos não perecíveis, distribuição de kits de higiene pessoal, vacinação dos moradores, doação de roupas, lençóis e toalhas, refeição e coletas de ovos de Páscoa e brinquedos.
As doações voluntárias puderam ser entregues no Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua (Cacb).
Segundo a UFC, o objetivo é promover a democratização do o à Justiça e ao bem-estar social, oferecendo doações e serviços essenciais à população vulnerável. Com caráter multidisciplinar, participam discentes e docentes dos cursos de Direito, Ciências Contábeis, Enfermagem e Odontologia.
Há também adesão e junção de projetos de extensão da Faculdade de Economia, istração, Atuária e Contabilidade (Feaac) e ligas da Faculdade de Medicina (Famed).
Segundo a professora Nélida Astezia Castro Cervantes, 51, coordenadora do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), atuante na gestão, a grande lição aprendida é de que todo mundo é igual perante a Constituição Federal de 1988 e é necessária uma consciência social comunitária.
NPJ funciona de segunda-feira a quinta-feira, das 8h às 15 horas, em virtude de um convênio com a Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE). A profissional do Direito afirma que o Núcleo visita, mensalmente, bairros carentes do Município para atendimento jurídico.
Conforme Nélida, o bairro Canindezinho receberá a próxima caravana, no dia 30 de maio.
"Nosso interesse é aproximar a Universidade da comunidade carente. Sair dos muros engessados. Porque quem está fora fica pensando que aqui dentro é um mundo não atingível. E quando fazemos isso, dizemos: 'Ei, a gente está aqui para ajudar vocês'", convoca.
Ela informa que, por mais que o problema do cidadão que vier à procura de atendimento não seja sanado imediatamente, é encaminhada a demanda para outros órgãos.
"Os nossos alunos, em contrapartida, têm um aprendizado que em outros lugares eles não teriam. A gente a o curso inteiro aprendendo teoria. Assim, aproximamos da prática. Podemos dar um retorno social muito grande do que recebemos de graça", indica.
Sobre a Praça da Bandeira, a professora informa que ações desse tipo acontecem duas vezes por ano. A próxima deverá ser para o fim do ano.
De acordo com Nélida, as demandas jurídicas mais solicitadas são divórcio, alimentação, guarda de filhos, usucapião, direitos do consumidor, questões de inventário etc.
Fabiano Tavares da Silva, 42, desempregado, trabalhou no último emprego como cozinheiro. Por estar sem ocupação no momento, procurou o serviço do Sine no local. Ele garante que procura serviço em qualquer área há três anos.
"Tenho uma dificuldade sobre a minha visão, porque tive celulite ocular", explica.
Já cozinhou para o Beach Park, Parque Recreio, Boteco Praia, entre outros estabelecimentos.
Respondendo em nome do Dialogar, a docente do Direito, Márcia Correia Chagas, 59, garante que a prioridade de atendimento destina-se às pessoas mais vulneráveis, funcionando com um caráter ao estilo pedagógico para evitar dúvidas e aprimorar a comunicação com a Justiça.
"Eles são protagonistas. Porque isso tem a ver com a vida deles. A gente está só para facilitar esse protagonismo de decisões", define.
Para a profissional, o aprendizado é transformador para conhecer outras realidades.
"Para a gente ter solidariedade, empatia, mediação e conciliação. A gente leva para a vida. Mas, sobretudo, aprendemos a olhar e a conviver com o outro de uma maneira mais empática. É inegável e impagável", resume.
População em situação de rua na Praça da Bandeira
Em nota, a Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) informa que a Praça da Bandeira é um dos espaços públicos que recebem semanalmente o Serviço de Abordagem Social para oferta de atendimento socioassistencial para pessoas em situação de rua.
No local, são acompanhadas 20 pessoas que utilizam a Praça como moradia.
São realizadas buscas ativas para identificação e encaminhamento das necessidades de pessoas em situação de rua, como cadastramento em programas sociais de o à renda e moradia, emissão de documentação civil, de agem intermunicipal, oferta de abrigamento, entre outras ações.
A rede de equipamentos municipais para pessoas em situação de rua concentra-se, em maior parte, no Centro de Fortaleza, região com maior contingente populacional deste grupo.
Nos equipamentos municipais voltados a este público, o Município afirma oferecer atendimento socioassistencial, jurídico e psicológico, alimentação, acolhimento, além de cadastramento para programas de o à moradia e renda.
No Centro, são disponibilizadas duas pousadas sociais, dois espaços de higiene cidadã, o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (unidade Centro), um Centro de Convivência, um Refeitório Social, além de distribuição de refeições prontas na rua.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) oferece atendimento médico, por meio da equipe itinerante, do programa Consultório na Rua, às pessoas que vivem na Praça.
O POVO esteve no local e pode conferir o trabalho do programa.
As equipes responsáveis pelo acolhimento são formadas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos e agentes sociais. Somente em 2025, entre janeiro e 8 de maio, foram realizadas 15 visitas pelas equipes de saúde no endereço.