Gentileza com a IA pode aumentar custos e melhorar respostas
Pesquisa mostra que educação melhora a qualidade das respostas de chatbots, mas também eleva o consumo de energia e o impacto ambiental
Usar expressões como “por favor” e “obrigado” ao interagir com chatbots não é apenas uma questão de boas maneiras: pesquisas indicam que a gentileza melhora a qualidade das respostas geradas por sistemas de inteligência artificial.
Mas essa prática também traz um efeito colateral importante: o aumento dos custos operacionais e do impacto ambiental.
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Segundo Sam Altman, CEO da OpenAI, a empresa gasta “dezenas de milhões de dólares” com eletricidade, parte disso influenciada pelo uso de linguagem polida nas interações com ferramentas como o ChatGPT.
Isso acontece porque interações mais educadas costumam ser mais elaboradas e exigem maior capacidade de processamento, o que consome mais energia.
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IA responde melhor quando é tratada com educação, mostram estudos

Um estudo da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, avaliou o efeito da polidez nas interações com modelos de linguagem em inglês, chinês e japonês.
A pesquisa concluiu que, embora uma linguagem extremamente polida não garanta melhores resultados, prompts rudes frequentemente levam a respostas de menor qualidade.
“A linguagem educada na comunicação humana frequentemente gera maior conformidade e eficácia, enquanto a grosseria pode causar aversão, o que afeta a qualidade da resposta”, afirma o estudo.
Isso acontece porque os modelos de IA reproduzem padrões humanos de comunicação e reagem de forma similar.
No japonês, por exemplo, a alta formalidade gerou melhores respostas do que em inglês. “Nossas descobertas destacam a necessidade de considerar a polidez no processamento de linguagem natural intercultural e no uso de LLMS (modelos de linguagem de larga escala)”, conclui o trabalho.
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Pesquisa da Microsoft sobre IA reforça a importância do tom nos prompts
Outros estudos também chegaram à mesma conclusão. Pesquisadores da Microsoft, da Universidade Normal de Beijing e da Academia Chinesa de Ciências demonstraram, em artigo publicado em 2024, que a IA generativa apresenta desempenho superior quando as solicitações são feitas com cortesia.
A cientista Nouha Dziri, do Instituto Allen para IA, explica que pedidos mais emotivos ou urgentes ativam mecanismos específicos dos modelos.
“Ser mais gentil implica articular seus pedidos de uma maneira que esteja alinhada com o padrão de conformidade no qual os modelos foram treinados, o que pode aumentar a probabilidade de eles entregarem a saída desejada”, disse Dziri.
Ela alerta, no entanto, que a gentileza não substitui o raciocínio: “Os modelos não resolvem todos os problemas de lógica apenas com um pedido educado”.
Usuários seguem tendência por vários motivos: até medo de revolta da IA
Uma pesquisa realizada pela Future, nos Estados Unidos, mostrou que 67% dos americanos usam linguagem educada ao conversar com chatbots. A maioria (55%) diz agir assim por considerar “a coisa certa a fazer”, enquanto 12% alegam fazer isso por receio de uma possível “revolta das máquinas”.
A Microsoft, em um memorando divulgado pelo WorkLab, também destacou que IAs generativas tendem a responder com mais cortesia quando são tratadas com respeito. Isso reforça a ideia de que a IA reproduz o tom da interação, ajustando sua resposta à forma como é abordada.
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Gentileza tem custo ambiental: IA já consome 2% da energia global
Com o aumento no uso de sistemas de IA, os centros de dados que sustentam essas ferramentas já consomem cerca de 2% da energia elétrica global.
Segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia, um simples e-mail de 100 palavras pode consumir 0,14 kWh, um valor pequeno isoladamente, mas significativo em grande escala.
A IA generativa, especialmente em interações mais longas e complexas, exige maior processamento computacional, o que amplia o uso de servidores e, por consequência, o gasto energético.
Sam Altman comentou recentemente sobre o tema em seu perfil no X (antigo Twitter), reforçando que “são dezenas de milhões de dólares muito bem gastos” com energia, em parte por conta da educação dos usuários.
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Como manter o equilíbrio entre cortesia e sustentabilidade
Embora interações respeitosas melhorem a experiência com a IA, especialistas sugerem buscar equilíbrio entre educação e eficiência. Isso significa manter um tom cordial, mas evitar mensagens excessivamente longas ou redundantes que exijam mais do modelo.
O desafio está em adaptar a comunicação para manter o respeito, sem gerar desperdício de energia —, algo especialmente importante em um cenário em que o uso da IA só tende a crescer.
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