Banana vs. mal-do-Panamá: o que se sabe sobre o fungo que pode extinguir a fruta
A extinção da banana está mais perto do que longe? Saiba mais sobre o fungo que afeta as plantações de bananeira
Sendo o quarto maior produtor de banana no mundo, o Brasil se destaca no consumo da fruta: cada brasileiro consome em média 25 kg ao ano, de acordo com o Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas .
O País produz quatro variedades da fruta: prata, nanica, maçã e ouro. As duas primeiras são as variações mais consumidas pelos brasileiros, enquanto a nanica é utilizada para exportação. Já a banana ouro é mais consumida na região Sudeste.
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No entanto, o alimento pode deixar de ser visto nas mesas devido ao fungo Fusarium oxysporum da raça 4 (ou TR4), causador do mal-do-Panamá.
O continente asiático e países latinos como Bolívia e Colômbia são acometidos pelo patógeno, que ainda não chegou em solo brasileiro. O solo pode permanecer contaminado com o fungo durante 30 e 40 anos.
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Banana: cultivo, nutrientes e mais
Botânico e professor visitante na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Danilo Marques explica como a banana chegou ao Brasil:
“A origem dela vem da Ásia, provavelmente do sul da China ou Indochina Região hoje composta pelos países Vietnã, Laos e Camboja. . A banana que a gente consome foi trazida da África pelos portugueses. A gente já tinha algumas variedades de banana que os indígenas da América do Sul consumiam, mas que eram muito diferentes da que a gente consome hoje em dia."
Um dos motivos pela adaptação da banana ter sido positiva em solo nacional, deve-se ao fato da fruta preferir um clima quente e úmido. “Então ela se adaptou bastante na América do Sul como um todo”.
A fruta não possui semente. Os ‘pontinhos pretos’ que são observados quando a banana é cortada, na verdade são estruturas que foram abortadas.
“A única maneira da gente conseguir plantar essa banana é diretamente dos brotos da planta mãe. É isso que gera o problema com essas doenças, porque como vem direto da planta mãe, há pouca variabilidade genética”, explica Danilo.
As primeiras aparições do fungo se deram em plantações de bananeira na África do Sul, Austrália e parte da Ásia.
O botânico afirma que atualmente não existe nenhuma maneira eficaz de evitar o fungo, pois eles são seres vivos bastante resistentes. "Por mais que se consiga pulverizações com agrotóxicos, esse fungo parece estar sempre se adaptando a eles".
Uma das possibilidades existentes, conforme Danilo, é a queima da plantação caso haja suspeita de solo contaminado.
De acordo com Danilo, as espécies de bananas mais resistentes ao fungo são os híbridos da banana prata, que estão em desenvolvimento pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Já as espécies com menor resistência são a banana nanica e a maçã.
Conforme o botânico, uma alternativa seria o consumo de bananas que aram por melhoramento genético. “Por exemplo, existem tipos selvagens de banana que ocorrem naturalmente na natureza, né? E elas são impróprias para consumo”.
“Apesar delas serem impróprias para consumo, quando cruzadas, esse cruzamento geraria um híbrido entre uma forma selvagem e uma forma comestível da banana”, destaca Danilo Marques.
Um novo tipo próprio de banana seria gerado. Ele teria uma diversidade genética alta devido ao parentesco com o tipo selvagem da fruta. Quanto maior a diversidade, maior a resistência ao fungo.
A nutricionista clínica e esportiva Emanuelle Moura, explica que a fruta é versátil e possui várias funções: "É rica em carboidrato de rápida digestão, então ela é ótima como pré-treino, tem vitaminas e minerais essenciais como vitamina B6, magnésio, cobre e manganês, e é fonte de triptofano".
Se a banana vier a sofrer uma extinção, é possível encontrar os nutrientes em outros alimentos. Mas, Emanuelle alerta que são alimentos mais caros e menos íveis à população. Confira abaixo as opções:
- Potássio: batata-doce, abacate, água de coco, beterraba, espinafre
- Energia rápida: tâmaras, mamão, manga, aipim cozido, melancia
- Fibras: aveia, maçã com casca, chia, linhaça, pera
- Vitamina B6: grão-de-bico, salmão, frango, nozes, abacate
- Triptofano: ovos, sementes de abóbora, castanhas, queijo, aveia
Já a nutricionista clínica e esportiva, Juliana Cavalcante, alerta que uma possível extinção da fruta causaria um impacto à população.
“Ela é bem do dia a dia do brasileiro. Economicamente falando, é bem ível e a praticidade do seu consumo facilita a preferência pela fruta. Aqui no Brasil, nós temos uma variedade de outras opções, que conseguiriam suprir nutricionalmente os benefícios da banana”.
Melhoramento genético pode ser a solução
A fitopatologista da Embrapa, Christiana Bruce, explica que há quatro raças do fungo. Segundo ela, as raças um, dois e quatro acometem as bananas, já a raça três agride as helicônias. “Ele causa doença no grupo de bananas Cavendish”.
De acordo com Christiana, o fator que mais contribui para a propagação do fungo é o transporte de mudas. “Principalmente se você utilizar mudas advindas de rizoma É um tipo de caule, geralmente subterrâneo, que se estende horizontalmente e serve para armazenar nutrientes e permitir a propagação vegetativa de uma planta.
”.
O indicado seria utilizar mudas oriundas da cultura de tecido. “Mudas micropropagadas, que aí elas estariam isentas do patógeno”.
Nos casos das raças um e dois, que ocorrem no Brasil, existem dois produtos para controlar o fungo: Tiabendazol, um fungicida, e extrato de Melaleuca alternifolia; ambos são registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Questionada sobre o risco de extinção da banana, Christiana afirma que uma alternativa para mitigar o possível risco seria realizar pesquisas para descobrir novas variedades da fruta.
"Que sejam resistentes ao fungo ou tolerantes e também métodos de controle alternativo para essa doença, que seria o que eu venho trabalhando aqui na Embrapa. Seria a utilização de microrganismos benéficos para controle da doença", explica.
O melhoramento genético, que é trabalhado pela Embrapa, funciona da seguinte forma: uma característica desejável é adicionada na planta, assim ela será capaz de tolerar o patógeno. Também é possível retirar algum gene e acrescentar outro que seja mais interessante.
Um cenário onde bananas transgênicas possam ser comercializadas no Brasil ainda é questionável. Conforme Christiana, a questão da adaptação da fruta em solo brasileiro e a aceitação do público devem ser levadas em consideração.
“Não adianta nada ela ser resistente ao patógeno, se não se adapta às nossas condições [climáticas] ou não ter uma aceitação comercial. Imagina produzir uma banana que seja tolerante ao fungo, mas você chega no mercado para vender e ninguém quer comprar. Tem que ver todos os lados”.
Para ela, é importante ter mais pesquisas sobre o assunto. “É interessante a gente ter cada vez mais alternativas para o controle da doença. Desde a parte de melhoramento genético, mas também o uso de microrganismos benéficos para o controle biológico”, conclui.